A Doença na Vida no Cristão: Uma reflexão baseada em João 11
A
vida é uma dádiva de Deus; viver é desfrutar deste presente maravilhoso!
Contudo, viver também inclui experimentar as consequências da Queda. Depois de Gênesis 3, a doença e a morte
assolam a humanidade. Estas estão no topo da lista das coisas que mais nos
amedrontam. Dr. Lloyd Jones trata a questão do medo em seu livro “Depressão
espiritual” e destaca que o medo do futuro, da doença e da morte pode levar
muitos à depressão. Não sabendo como lidar com a doença e o luto, muitos de
fato caem em depressão.
No
texto de João 11 temos ensinos preciosos sobre como o cristão deve entender e
lidar com doença. Nosso Senhor Jesus demonstra que há esperança diante do
sofrimento. Destacamos a seguir alguns ensinos sobre a doença na vida do
cristão.
1.
A doença acomete pessoas comuns – “Estava enfermo Lázaro, de Betânia, da aldeia de Maria e de sua irmã
Marta” (vs.1). O texto nos deixa
claro que Lázaro era um homem comum, que morava numa cidade comum, que tinha
uma família comum. Lázaro era um homem como qualquer um de nós. Ele era pecador
e vivia num mundo que está debaixo dos resultados da queda.
A doença é fruto da Queda - Vivemos num mundo
caído! Após a entrada do pecado no mundo, a doença tornou-se parte da vida do
homem. Contudo, não se deve tratar toda doença como fruto de algum pecado
pessoal, julgando que determinada pessoa ficou doente porque pecou. O exemplo
do cego de nascença em João 9 é suficiente para que entendamos esta verdade: “E os seus discípulos perguntaram: Mestre,
quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se
manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.2-3). Veja que o propósito da
doença, neste caso, é para que “as obras de Deus fossem manifestas”, e Deus, em
Cristo, fosse glorificado. Os amigos de Jó, ao verem seu sofrimento, o acusaram
de ter pecado (Jó 11). Porém, eles estavam equivocados! A doença de Jó não era
fruto de um pecado pessoal! No fim do livro, Deus repreende os seus amigos e Jó
precisou orar por eles, para que Deus os perdoasse (Jó 42.7-9). Por outro lado,
não podemos negar que há casos de doenças que foram consequências de pecados
cometidos, ou que fazem parte da disciplina de Deus, como aconteceu com Davi
(2Sm 12.15-25). É importante, porém, que entendamos que o nosso papel não é
sair por aí apontando para o doente a razão da sua doença, muito menos investigando
se ele está em pecado. Não somos “amigos de Jó”! Pelo contrário, na angústia,
precisamos amar e consolar: “Em todo
tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (Pv 17.17).
Os crentes também adoecem – Lázaro certamente
era crente em Jesus e a doença o acometeu. Todos estão sujeitos às doenças:
ricos e pobres; homens e mulheres; famosos e desconhecidos; crentes e não
crentes e etc. Há muitos que pregam que crentes não devem adoecer, se estão
doentes é porque pecaram ou porque não têm fé para serem curados. Esses distorcem
o texto de Isaías 53.4, dizem que Jesus levou nossas enfermidades, por isso, os
crentes não devem adoecer. Isso é mentira! No texto, “enfermidades e dores” são
palavras abrangentes para o sofrimento geral do homem em consequência do
pecado. Mateus entende essa abrangência, pois descreve esta profecia se
cumprindo não só quando Jesus curava doentes, mas também quando expulsava os
demônios (Mt 8.16-17). As curas realizadas por Jesus testificavam que ele era o
Messias, que tomaria sobre si o sofrimento em consequência do nosso pecado, para
que fôssemos perdoados. No contexto, Mateus descreve a cura de um paralítico
onde Jesus apresenta claramente que o propósito da cura era apontar para o fato
de que ele tem autoridade para perdoar pecados: “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra
autoridade para perdoar pecados—disse, então, ao paralítico: Levanta-te, toma o
teu leito e vai para tua casa” (Mt 9.6). Além disso, Isaías 53.4 deve ser
lido dentro do contexto, onde o “levar sobre si” refere-se especialmente ao
castigo pelo pecado. O Cântico termina com esta tônica: “...contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores
intercedeu” (Is 53.12b). De fato, a profecia de Isaías se cumpre em Jesus, quando
curou e expulsou demônios de muitos, mas os milagres apontam para sua autoridade
de perdoar pecados e ilustram a completa redenção no céu, onde não haverá mais
choro, nem dor, nem enfermidade, pois as consequências da Queda serão de vez
extirpadas da vida dos salvos. Porém, como vimos, não há nenhuma promessa de
Deus de que os crentes não terão doenças aqui nesta terra!
Timóteo
tinha enfermidades e Paulo não o repreendeu por falta de fé, mas o aconselhou a
tomar um pouco de vinho que faria bem para as suas dores no estômago (1Tm
5.23). Será que Paulo e Timóteo não tiveram fé para determinar a cura? Eles
tinham uma fé verdadeira, contudo, entendiam que crente também adoece, e que
neste caso, deveriam orar a Deus, como vemos Paulo fazendo em suas cartas, e
fazer o que estava ao alcance, como usar vinho como medicamento para as dores.
Contudo, Deus é quem decide e determina se curará, ele é Deus e não nós!
Ser
crente, portanto, não significa estar imune às doenças. Somos redimidos, mas
ainda estamos neste mundo caído, que aguarda a redenção plena. Não devemos
carregar a culpa pensando que a doença é falta de fé ou castigo por algum
pecado do qual não se sabe. Se houve pecado, e é claro que a doença é
consequência deste pecado específico, você deve saber que “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar
os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9). Confesse e você
experimentará o perdão e a graça de Deus! Talvez você tenha que conviver com a
consequência do seu pecado, mas não mais com o peso da culpa, pois, me Cristo,
você estará perdoado!
2. A doença acomete pessoas
amadas por Deus - três vezes aparece no texto que Jesus
amava Lázaro (vs 3, 5 e 36). Isso é maravilhoso! Aprendemos duas preciosas lições
com Jesus:
A doença não significa
falta do amor de Deus
-
No verso 3, as irmãs de Lázaro reconheciam que Jesus o amava, o escritor
confirma e reconhece esse amor no verso 5, e os judeus também reconhecem no
verso 36. O amor de Jesus por Lázaro e suas irmãs era inquestionável! Isso,
porém, não impediu que Lázaro adoecesse e até mesmo morresse. A doença na vida
dos filhos amados de Deus não significa que Jesus deixou de os amar, ele
continua amando os seus!
A aparente falta de
resposta não significa falta do amor de Deus
– No verso 5 é confirmado o amor de Jesus por Lázaro e suas imãs. Então, no
verso 6 diz que Jesus, após receber a notícia, ainda demorou dois dias onde
estava. Aparentemente, Marta, Maria e Lázaro ficaram sem a resposta de Jesus quando
mais eles precisavam. Mas o texto diz que Jesus os amava!
Muitos, quando adoecem, começam a duvidar do
amor de Deus. Alguns começam a questionar a Deus, ou até mesmo acusar a Deus de
falta de amor. Outros, quando não recebem resposta das suas orações, também
duvidam de Deus! Não deixemos a dúvida tomar conta do seu coração! Não
duvidemos do amor de Deus! Deus já provou seu amor pelos seus: “Mas Deus prova o seu próprio amor para
conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”.
(Rm 5.8)
3. A doença acomete pessoas
dentro dos propósitos de Deus – “Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para morte,
e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela
glorificado” (vs4). Aqui está um ensinamento preciosíssimo de Jesus: Tudo,
até mesmo a enfermidade, tem um propósito definido por Deus!
O
propósito de levar à fé em Cristo – a doença de Lázaro foi
com um propósito evangelístico, pois no fim muitos creriam em Cristo (vs 45). Jesus
também queria levar os discípulos a crerem nele: “Então, Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu; e por vossa causa
me alegro de que lá não estivesse, para que possais crer; mas vamos ter com ele”
(vs 14-15). Depois, Marta e Maria aparecem no texto como mulheres que
demonstraram uma fé verdadeira em Jesus (vs. 21-22 e 32). A doença na vida do
cristão muitas vezes forja a sua fé em Cristo, fazendo-o crescer em fé e
aprender a depender de Deus. Ela serve também de testemunho para levar outros a
crerem em Jesus.
O
propósito de glorificar a Deus e ao Filho - A enfermidade
de Lázaro era “para glória de Deus” e “a fim de que o Filho de Deus por ela
fosse glorificado”. O Pai e o Filho foram glorificados na doença de Lázaro,
este era o propósito final do sofrimento deste homem. Que coisa maravilhosa! A
vida do cristão não é como uma folha seca levada pelo vento, sem rumo, sem
propósito! Tudo está debaixo da ação soberana de Deus! Ele é glorificado na
vida do cristão sincero até mesmo nas adversidades e doenças.
Os
crentes devem crer que nada foge à soberania de Deus! Nada é por acaso na vida
do servo de Deus! O Senhor das nossas vidas sempre tem seus propósitos bem
definidos, e aquilo que acontece conosco não pegou Deus de surpresa. Ele
conhece cada bactéria e vírus, ele sabe o momento exato que eles nos atingem!
Ele tem propósitos grandiosos que nem sempre entenderemos, mas pela fé,
aguardamos que Ele cumpra cada um dos seus propósitos e ele seja glorificado em
nós!
Conclusão
John
White diz que “Deus ainda cura
milagrosamente. Mas nem sempre. Nem é necessariamente a nossa fé que decide a
questão, mas seus propósitos maiores. Quando a tragédia nos acomete, nossa
primeira reação deveria ser a de perguntar a Deus o que ele quer de nós. Fé
para um milagre ou confiança para enfrentar a tragédia?” (apud Eleny Vassão no livro ‘No leito da
Enfermidade”).
Em
resumo, o cristão deve entender que a doença é fruto da Queda, mas nem sempre
de um pecado específico; a doença traz sofrimento, mas não significa falta de
amor de Deus; a doença nos pega de surpresa, mas não a Deus; na doença não
vemos razão, mas Deus tem os seus propósitos, ele quer moldar nossa fé, levar
outros à fé em Cristo e glorificar o seu nome. Sendo assim, somos chamados a
crer em Deus e nos seus propósitos soberanos, mesmo quando não os entendemos.
Em tudo, porém, nossa fé e esperança estão em Cristo!
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