DEPRESSA!
Vivemos no mundo da "pressa", tudo é muito rápido, ágil, apressado, e, mesmo assim, queremos mais! O smartphone de hoje é mais rápido que o de ontem, a fast-food, os carros, motos, aviões, os processos industriais e até a engorda dos animais, tudo torna-se cada dia mais rápido! Sim, queremos tudo tão depressa! Se pudéssemos eleger um herói dos quadrinhos para viver entre nós e servir à comunidade, certamente, muitos escolheriam o Flash. Já imaginou o Flash trabalhando nos Correios?! Aquele livro jamais chegaria atrasado, não é mesmo?!
Deixando um pouco a imaginação de lado, a agilidade pode ser tanto positiva como negativa, ela pode salvar a vida na emergência de um hospital ou tirar a vida nas estradas. Quando se trata da chamada "vida corrida" é preciso ter cuidado, é bem comprovado o quanto essa pressa toda pode ser perigosa à saúde do corpo e da alma. Algo intrigante é que essa pressa toda parece revelar um sentimento de insaciabilidade constante do coração. A humanidade parece viver uma inconstância frenética, na qual alguém abandona ou troca um amor por outro em minutos (já poderia dizer "segundos"?!). Aquilo que era tão bom ontem, hoje não é mais, apressadamente foi substituído! É assim que muitos lidam com o seu suposto amor a Deus. A falta de capacidade de amar a Deus e manter-se nesse amor não é uma característica só do mundo apressado de hoje, é um problema antigo, desde a queda (Gn 3). "O coração é uma fábrica de ídolos", disse Calvino, e há muito a Bíblia já alertava sobre um movimento muito perigoso de pressa, o movimento do coração em busca de ídolos novos a cada dia.
A Palavra de Deus nos mostra que o coração corrupto do homem não só pulsa, mas também impulsiona o homem depressa para o mal. Alguns textos nos alertam sobre pressa do nosso coração em desviar-se do Deus verdadeiro e se apegar aos ídolos. Moisés, por exemplo, ficou alguns dias no alto do Sinai e logo o povo se corrompeu: "e DEPRESSA se desviou do caminho que lhe havia eu ordenado; fez para si um bezerro fundido" (Êx 32.8). A palavra hebraica para "depressa"( מהר maher) dá uma ideia de algo imediato, ligeiro, veloz. Em Juízes 2.17, a mesma palavra é usada e o texto fala de uma geração que surgiu depois de Josué (e dos anciãos) que não conhecia o SENHOR e, mais uma vez, foi uma geração rápida para o mal: "DEPRESSA se desviaram do caminho por onde andaram seus pais na obediência dos mandamentos do SENHOR; e não fizeram como eles". A idolatria aqui também está envolvida, pois abandonaram o Senhor para "seguirem após outros deuses" (Jz 2.19). No Novo Testamento, vemos que esse perigo da pressa do coração em desviar-se da verdade e se apegar à mentira ainda permanece. Paulo exortou aos irmãos da galácia, pois muitos ali, rapidamente, estavam abandonando a verdade pela mentira: "Admira-me que estejais passando tão DEPRESSA daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho" (Gl 1.6). O coração não é só uma fábrica comum de ídolos, é uma fábrica flash (instantânea) de ídolos.
A pressa do coração percorreu, rapidamente, a história da igreja e chegou a nós. Os tempos são outros, mas o coração humano é o mesmo. É claro que aqueles que foram regenerados em Cristo receberam um novo coração, mas ainda há luta contra o pecado, contra a carne, e, consequentemente, contra a idolatria do coração. Por isso, sempre foi necessário que algumas exortações fossem dirigidas à igreja, para que ela esteja sempre em vigilância:
- "Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue..." (Hb 12.4)
- "Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si..." (Gl 5.16-17),
- "Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (Jo 5.17)
O coração regenerado, portanto, também luta contra a pressa para o mal. Na realidade, tal luta "contra" só existe na vida do regenerado, os demais não lutam, são entregues ao mal, andam "segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos" (Ef 2.3), estão mortos nos "delitos e pecados" (Ef 2.5). Contudo, com tristeza, é preciso dizer que muitos, rapidamente, abandonam o Senhor para andar após outros ídolos! "Muitos" aqui não é pessimismo, é uma realidade que a igreja sempre enfrentou, como Paulo mesmo identificou: "Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas" (Fp 3.18-19). Há muitos que abandonam o Senhor sem sair da igreja, muitos os quais tiveram o coração ligeiramente seduzido para amarem a si mesmos, tornando-se idólatras do "eu", buscando servir ao "ventre", os seus desejos carnais e libidinosos; muitos os quais o coração velozmente se apegou a um político, a uma ideologia humana, a uma personalidade religiosa e aos bens e prazeres terrenos. Enfim, muitos que estão "entre nós" são seduzidos pela pressa do coração e abandonam a verdadeira adoração, servindo aos ídolos vãos levantamos em seus próprios corações.
Assim como o coração logo se corrompe, a consequência do pecado também vem depressa. Deus avisou ao povo de Israel, antes de entrarem na terra, sobre a consequência da idolatria: "vocês serão rapidamente (depressa מהר maher) eliminados da terra" (Dt 4.26; ver Dt 7.4 e 28.20). Contudo, o povo de Deus é exortado a confiar nele, pois aquele que disciplina rapidamente é o mesmo que, depressa, dá a vitória ao seu povo: "Sabe, pois, hoje, que o SENHOR, teu Deus, é que passa adiante de ti; é fogo que consome, e os destruirá, e os subjugará diante de ti; assim, os desapossarás e, DEPRESSA, os farás perecer, como te prometeu o SENHOR." (Dt 9.3). O salmista conhecia este Deus que pode, depressa, vir em socorro, por isso ele ora: "Não escondas o rosto ao teu servo, pois estou atribulado; responde-me DEPRESSA." (Sl 69.17). Tendo em vista essa realidade, torna-se tão necessário que, depressa, ouçamos a exortação: "Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé" (2Co 13.5). Somos convocados ao autoexame, ao abandono dos ídolos e pecados, certos, como o salmista, de que temos um Deus que pode, depressa, nos alcançar com a sua misericórdia: "apressem-se ao nosso encontro as tuas misericórdias" (Sl 79.8).
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